SE EU AGUENTO SER FELIZ, NIZAN?

De repente encontro o Nizan de tênis carmim e cara lavada perguntando Você aguenta ser feliz? na capa de seu próprio livro, que tem esse título original e sincerão como só ele sabe ser. Foi o gatilho para muitas memórias.

De longe, nós dois passamos perrengues parecidos, workaholics que fomos – ou somos, visto que, como outros vícios brabos, esse não tem cura, mas exige que se tenha cuidados eternos. É o que ele mostra na capa do livro, com aquele sorriso maroto que o define, e o que comprova no interior, nas 200 e poucas páginas onde em algumas delas a sua voz em itálico explica: ele suou muito para ser o cara feliz que se tornou. Nizan relata os apertos sofridos para mudar o estilo de vida que construiu e que vinha destruindo sua saúde física e mental. Contar essa história de superar a si mesmo é também mais um objetivo conquistado por ele, depois de correr maratonas e participar de triatlo, pois ele acredita que qualquer pessoa, nós mortais, também possa fazê-lo. Isso tudo baseado na estratégia criada pelo seu médico, amigo e coautor da obra, o psiquiatra Arthur Guerra, descrita pelo próprio em todo o livro.

Digo que de longe passamos perrengues, porque de perto já passamos por alguns. Com o Nizan, convivi intimamente 35 anos atrás no apogeu da publicidade brasileira, início dos 1990. Eu, no ápice da minha carreira em comunicação, na Folha de S.Paulo, junto à coluna da Joyce Pascowitch; ele, na WBrasil. Na época, a agência vivia um boom com a reunião de premiados talentos dentro da casa, entre eles, meus amigos e conterrâneos Tetê Pacheco, Ricardo Freire, Marcelo Pires. Nizan me chamou para ser assessora e RP da DM-9 recém-criada. Na mesma sala, bebíamos daquela fonte criativa em um moto-contínuo de inspiração e produtividade. Vivíamos no limite, acelerados pelas oportunidades e ferveção do mercado – as dimensões para qualquer empreitada na propaganda eram universais, infinitas. Nizan, com sua personalidade motivadora, era o dono da bola, da cocada, da plataforma de combustível que abastecia nossos espíritos e mentes e nos fazia pensar e agir. A DM-9 nasceu lançada com uma memorável festa de inauguração que organizei para aquela que viria a ser parte de um dos maiores grupos de comunicação do mundo que ele criou e que fez Nizan Guanaes ser nomeado em Cannes uma das 12 lendas vivas da propaganda internacional. 

Uma escola da qual tenho saudades.

Somos da mesma safra: 1959 – ele de maio, eu, novembro – e de terroirs distantes: ele na Bahia, eu no Rio Grande do Sul. Um dia, um fotógrafo carioca de sobrenome Pernambuco veio trabalhar em uma campanha para a DM-9 e meu coração foi flechado. O Nando Buco é meu parceiro há 35 anos. Até nisso, tem Nizan e sua mágica.

Voltando ao livro: ele revela como se sentiu durante a transição de uma “vida pobre”, definida assim por Arthur Guerra na primeira consulta com seu célebre paciente, enredado nos problemas de saúde física e mental. Bem-sucedido, reconhecido e admirado, Nizan conta que usou a mesma determinação que o fez uma pessoa de sucesso para ser um sucesso de pessoa – para si e para sua família. Nada fácil, mas não impossível. Disciplina, disciplina e disciplina, ele diz, citando Aristóteles (“A felicidade é uma religião sem Deus”) e a si mesmo para afirmar que “é preciso ser profissional também em relação à própria vida”. Os oito capítulos são divididos em temas essenciais para o autocuidado e o redesenho do estilo de vida onde caibam a atividade física, o esporte, o sono, a alimentação, as boas relações – tudo muito bem explicado pelo Dr. Guerra. Ali está um segredo que todos conhecem, poucos praticam e que faz com que se perceba mais do melhor que é Nizan – que já era bom, hein?

Lá no final, ele diz com todas as letras que sempre gostou de ser diferente – não para ser melhor, mas para ser ele mesmo. É possível encontrar, durante a leitura, a energia que habita os dois autores e qualquer um de nós, o que nos leva a uma reflexão sobre nós mesmos e os caminhos para o bem-estar consigo. E aí, como está no epílogo: o próximo capítulo é com você! Mais inspirada por Nizan, também vou escrevendo o meu, esse coração na mesa em sua tela.

O livro é Você aguenta ser feliz?, de Arthur Guerra e Nizan Guanaes, Editora Sextante, 2022.



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