Aqui estamos.

Os negócios da comida trazem prosperidade? E a saúde? Expansão vale o sacrifício? Longevidade e felicidade fazem par? Uma pensata para aqueles que ainda estão aqui.

O querido Edrey Momo em um momento de descontração

Um pouco anestesiada pela súbita morte do empresário, colega e liderança no setor de restaurantes Edrey Momo, me ocorrem pensamentos que trago à mesa, com meu coração franco e em recuperação de recentes ups and downs cotidianos.

Edrey é um profissional admirado, um empreendedor corajoso e um amigo — de todos e meu também. Há pouco tempo ele esteve no Estudio Carla Pernambuco, compondo uma animada roda de interessados na aula de queijos da BelaFazenda, de Bofete (SP), apresentada pela produtora Carol Vilhena. Conversamos, atualizamos as discussões do setor e as notícias dos negócios próprios, cada um nas devidas proporções. Edrey assumiu com o irmão Erik o comando da rede de pizzarias 1900, fundada pela família, expandiu o negócio, agora com 13 lojas, e em 2011 trouxe, com o chef português Vitor Sobral, a filial do Tasca da Esquina para o Brasil, que, ainda, mais tarde, gerou a Padaria da Esquina, sucessos retumbantes e premiados. Ele próprio também foi agraciado com o título Restaurateur do Ano, em 2016, pela Veja SP. Foi Edrey, ainda, quem levou à frente movimentos de apoio, discussão e regeneração do setor durante a pandemia, realizando ações essenciais, como lives com os empreendedores, pautas abertas sobre as crises causadas pela economia nacional, as aflições de gestão em toda a sua complexidade. Entre tudo isso, filhos, família, a saúde pessoal — mental, física e espiritual, a tríade que nos equilibra. Edrey teve um ataque do coração à noite, no seu bairro, passeando com os dois cachorros que eram, também, sua paixão.

Ficamos aqui, nós todos, seus pares de bares, restaurantes, os padeiros, confeiteiros e eu, tentando entender onde está o que não vemos? Ou o que vemos não é suficiente para percebermos? Inquietos, buscamos crescer, prosperar e superar os revezes, enquanto atendemos com carinho e preocupação cada cliente que chega à mesa, cada um que encosta no balcão e faz um pedido. Assediados por investidores, procurados por marcas, sentamos para conversar, despistamos quando não dá, fazemos contas, noites em cima de projeções, manhãs de reuniões sucessivas — e a cozinha ferve.

Este ano, 30 anos de Carlota.

Já houve o Carlota RJ, as sociedades em outras casas, as intensas consultorias pelo país, as parcerias com profissionais amigos, e há, até hoje, as colaborações com marcas, os contratos com empresas, assinaturas de cardápios, dos livros autorais, dos livros de terceiros, os produtos desenvolvidos com a marca Carlota e o Estúdio Carla Pernambuco, um laboratório criativo e casa de experiências onde comidas do mundo, arte e afetos se mesclam aos sabores.

É muita coisa!

Manter a marca por 30 anos com uma casa somente, no bairro onde o vai e vem de inaugurações revela a dificuldade de se manter, de ficar em pé com dignidade e resultados é bastante realizador! Às vezes ceder ao feitiço do crescimento pode recompensar, mas é importante distinguir o que é pressão, o que é necessidade e o que é oportunidade. Não estou dando receita, porque não a possuo: sei o que funciona para mim e quando — honestidade consigo mesma é libertação.

É o que pretendo conservar por mais tantos 30 anos que me forem permitidos. Especialmente a proximidade com pessoas especiais, entre chegadas e partidas.


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