Por elas, café para todos
O café sempre oferece algo a mais, além da bebida prazerosa que é. É sobre descobertas e aprendizados
Chegando ao Café por Elas pelo aroma e a fachada na Barão de Tatuí (foto João Fenerich)
Esse universo particular onde convivem o café e a singularidade feminina foi criado POR ELAS a partir do exemplo de vida da mãe, Abadia. Uma história onde não falta dedicação e entrega. Abadia Helena é descendente de família mineira ligada à terra, ao cultivo agrícola. A mãe das meninas planejou retornar à vida rural, depois de cumprir a criação das filhas na cidade, e, com o marido, adquiriu a fazenda São Luiz em Dourado (SP). Lá iniciou a produção de cafés. Nadia e Julia, as duas advogadas envolvidas em suas carreiras ascendentes no Direito, passaram a fazer parte do empreendimento. Essa paixão que o café não anuncia, mas a gente sabe que vai rolar e é impossível resistir.
O bao de açaí: burguer praieiro (foto Kato)
Em 2018, já colhiam resultados com seus cafés especiais e iniciaram a torra dos grãos na fazenda. O café da São Luiz é o Abadia, justa homenagem àquela que inspira as filhas e tanta gente que a conhece. “Uma mulher visionária, com raízes na terra e a mente no infinito”, recita para mim Nadia, a idealizadora do POR ELAS. A genética empreendedora é admirável. Julia é curiosa, inquieta e antenada — na operação dos negócios, encontra e aplica as melhores soluções para a melhoria dos processos. Quem diz isso é a irmã, por sua vez definida por Julia como “criativa e equilibrada”. A união é mais que fraterna entre essas duas, começa pela mãe: todas se admiram e respeitam. Elas estenderam esse laço para o próprio business e convidaram mulheres produtoras a fazer parte do POR ELAS, expandindo a seleção, torra e comercialização dos cafés POR ELAS no mercado.
A cada safra, um dos grãos é escolhido para destacar o espresso POR ELAS (foto João Fenerich)
A marca desenvolve seu portfólio procurando manter em média seis cafés em linha — um de entrada, um dedicado ao método espresso, um certificado orgânico, dois microlotes sazonais com perfis exóticos, provocando novas experiências. São cerca de 25 produtoras que fazem parte desse mix com os cafés especiais que cultivam, todos acima de 80 pontos segundo os critérios de avaliação internacional da SCA — Specialty Coffee Association. Na minha visita, provei o aromático Arara da produtora Carol Alckmin, levei para o Carlota um grão potente produzido em Caconde (SP) para o espresso.
Provas do dia no portfolio POR ELAS (arquivo pessoal)
Fazer negócios com elas é suave e alegre, muito objetivo. Julia diz que percebe mais diálogo e constrói relações mais fortes com as mulheres produtoras — e mesmo compradoras, como eu, entre marcas como Mani, Botanikafe, a livraria Gato sem Rabo. As mulheres, segundo elas, estudam mais, são mais conectadas ao entorno, o que faz da sustentabilidade um tema legítimo e cotidiano, e se mostram mais colaborativas. No POR ELAS, os serviços são de consultoria, compra de equipamentos, treinamento de equipe, elaboração de carta de cafés.
Enquanto isso, na Fazenda São Luiz, as três iniciam um projeto de manejo agroflorestal, propondo a cafeicultura regenerativa como cultivo sustentável e, ainda, como uma retribuição e homenagem à mãe, Abadia, cuja visão de futuro inspirou as irmãs e sócias. Saber equilibrar os atributos femininos nos negócios é uma arte essencial, ainda mais quando o assunto é sensorial e essencial como o café.