NUNCA FUI UM DOCINHO DE COCO

Casa de meus avós em Santa Maria, no Rio Grande do Sul.
Foto: Google


1. Nunca fui um docinho de coco

A Carla sincerona apareceu nas mídias há umas poucas semanas em matéria para a Folha de São Paulo. Ali está resumida boa parte de minha história e essa característica, que nunca foi encoberta, e veio a se tornar o título na página inteira: “Nunca fui um docinho de coco”. Em meu mais recente livro (2019), A Cozinha de Carla Pernambuco na TV, existe um capítulo com receitas de carnes intitulado Faca na Bota – se refere ao “espírito destemido” dessa que vos fala mais do que aos pratos carnudos. O termo faca na bota tem origem nas minhas raízes gaúchas e se refere à mulher, pasmem, que mantinha o instrumento ao alcance da mão para o caso de precisar se defender. Viu? 

Na entrevista para a Folha, falo do Meu Coração na Mesa, o livro que está sendo escrito nesse momento e com toda essa sinceridade que, não temam, vive neste coração habitado também por muito amor e carinho. 

Enquanto isso, leio o Atlas of the Heart, da super Brené Brown, best-seller onde a autora descreve pesquisas sobre as experiências que nos tornam os humanos que somos, a partir de 87 emoções que nos definem. Não tem docinho de coco nem faca na bota, mas me encontrei em muitas delas.

A entrevista na íntegra pode ser lida no link: https://www1.folha.uol.com.br/comida/2022/02/nunca-fui-um-docinho-de-coco-diz-carla-pernambuco-aos-30-anos-de-carreira.shtml 

2. Quinoa ou Quinua?

Com a minha inabalável confiança de escorpiana, subo na rasteirinha toda vez que alguém me corrige quando digo “quínua”, assim grifando o u e acento no i. “É quinoa”, ousa a interlocutora fazendo um ô redondo com a boca. Tanto faz. Além das duas formas estarem corretas, o grão de ouro, como é conhecido, é quéchua (quero ver alguém pronunciar corretamente), nascido nos Andes, considerado o alimento mais completo do mundo, comparável somente ao leite materno. Ganhou fama internacional e um aposto – comida de astronauta – por ser utilizado pela NASA.

São as condições climáticas das terras altas dos Andes, a mais de 3 mil metros do nível do mar, entre Bolívia, Peru e Argentina, que dão superpoderes ao alimento. Os incas o consideravam sagrado, o grão-mãe. O diretor David Lynch deve ter se inspirado nessa afirmação para fazer um vídeo esquisitão em preto e branco onde explica como preparar a quinua na tranquilidade do seu lar. https://youtu.be/ZN1pP448jgw 

Em comparação com o trigo e o leite, a quinua contém doses mais altas de aminoácidos, os componentes das proteínas, para atender às necessidades do organismo. Além de boa fonte de proteína e vitaminas do complexo B, a quinua é considerada um carboidrato de baixo índice glicêmico. O melhor de tudo é a diversidade de propostas que a quinua permite, com sua textura ora crocante, se cozida sequinha, ora paposa e molhadinha – e sempre deliciosa!  

Ao final, tem receitas com o grão que eu amo – e não me corrijam, por favor!

3. Os tomates do vovô Olintho

Eu tinha uns sete anos quando comi tomate e me convenci de que foi a primeira vez. Registrei o fato como se fosse uma descoberta espacial: encontrei uma nova estrela na galáxia! Até pensei em colocar meu nome, como o Daniel Kondo falou ao criar o menu Estação Carlota por conta do bendito metrô colado no restaurante, mas logo avisaram para aquela exploradora mirim que o tal pomo de ouro (pomo d´oro) já estava catalogado. 

Os tomates eram da horta do meu avô italiano, Olintho Danesi, um gringão forte e rosado casado com a castelhana, minha avó, Nair Nuñez. Eles viviam em um sítio no meio da cidade de Santa Maria, no Rio Grande do Sul. Eu costumava passar férias com eles, íamos de carro ou na Maria Fumaça, o trem leito de Porto Alegre que chegava na cidade de madrugada. A estação ficava perto da casa dos meus avós e era parte da aventura ir andando até lá.

A propriedade era surreal. Naqueles anos 60, vovô Olintho era representante de máquinas agrícolas e mantinha os produtos em casa! Atrás do casarão havia um galpão enorme com tratores e colheitadeiras e, mais ao fundo, a horta, onde eram cultivados rúcula, radicci, ervas e os tomates. No porão, meu avô guardava as iguarias: salames, copas, queijos, morcillas, linguiças. A grande aventura, depois do trem e da caminhada para chegar na casa do Danesi, era desbravar tudo o que poderia existir naquele universo particular. 

A propriedade ainda existe: a fachada do casarão foi preservada e hoje abriga uma produtora, a TV Ovo. Não batizei o pomodoro, mas minha visão futurista de cozinheira aerocosmopolita já naqueles tempos antevia a comida e o entretenimento reunidos no mesmo espaço, como é todo o mundo ao meu redor. 

Tem tomates para comer com a quinua.

Tomates recheados de tabule de quinoa
Rendimento: 15 porções

Ingredientes:

15 tomates italianos maduros cortados ao meio sem miolo 

200 g de quinoa cozida na água e sal

1 xícara (de chá) de azeitonas verdes picadas

2 xícaras (de chá) de salsinha

1⁄2 xícara (de chá) de hortelã

1 xícara (de chá) de cebola branca picada

1⁄2 xícara (de chá) de pepinos sem a casca picados 

2 xícaras (de chá) de tomates picados

Sal azeite e limão

Preparo:

Pré temperei os tomates com azeite, sal, pimenta e raspas de limão.

Misture todos os ingredientes, recheie os tomates. 

Os tomates são assados a 160 graus por 8 a 10 minutos já recheados com a quinoa.

A montagem fiz com pétalas de tomates verdes e maduros, uma colherada de coalhada, um pouco de pesto e azeite de ervas fiquem a vontade para fazerem como preferirem.

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