YOGANDO
1. Yogando
Respila bem plofuuuundooo...
A voz fininha adentrava os tímpanos na intenção de perfurar meu cérebro, imagino, aquela ordem aguda dada pela professora logo que iniciava a aula. Anos 90 e eu fazia Yoga em uma clínica lá para os lados do Ibirapuera. Até hoje, quando passo por perto, começo a dar risada sozinha relembrando a cena.
Era outra época e eu, outra pessoa.
Queria resultado, chegar logo ao destino: capturar tudo que eu conseguisse aprender.
E sair usando.
A Claudia Faria é minha professora há cinco meses. Com ela descobri que existem (muito) mais ensinamentos que o Yoga pode oferecer do que imagina a nossa vã posição de lótus no tapetinho hipster da sala de estar.
“Não é sobre resultados”, ela diz. Esse é um vício que faz com que a gente busque sentido somente no que tem utilidade, completa a guria de sorriso fácil no corpo perfeito trabalhado no autoconhecimento. Eu sigo tudo o que ela fala, porque não é sobre performance, posições complexas e estados mentais inalcançáveis. Parte do Yoga é visto como uma prática inerte, de relaxamento. Outra é acrobática, supra-humana. Tento entender que não é nem um nem outro. A professora elaborou para mim práticas mentais e físicas – um programa dinâmico, que desafie o aspecto físico, sem malabarismos, e leve a mente a desapegar de seus deveres, lincando ao todo. Estou aprendendo.
É sobre o reencontro, o que fala à mente e ao espírito – e os reúne ao corpo novamente.
Claudia me ensinou a respirar, porque, segundo ela, a primeira coisa que preciso fazer é reestabelecer o equilíbrio (a partir da compreensão) das necessidades vitais: respiração, nutrição, exercício e descanso.
O coração é a máquina mais importante desse equipamento que é nosso ser, fala a professora. Quando há um desequilíbrio, o coração é atingido nesse sistema: respirar errado faz mal ao coração, comer errado faz mal, não descansar também. E começo a entender que uma ação respeitosa comigo mesma traz lucidez – meu corpo lúcido respira!
Ouvi por aí que a Claudia me elogiou dizendo que sou forte, destemida e muito disciplinada. “Nos exercícios, ela vai até o fim, não abandona. Concentrada, se conecta, está ali para vivenciar de verdade o que busca”, me disse um passarinho.
Respilando plofuuuundo, ri de mim mesma, feliz. 😉
2. Indian feelings
Minha feliz adesão às práticas do Yoga excita meu apetite. A fome segue a mesma direção dos ensinamentos: é a cozinha da Índia quem me chama!
Desde muitos anos, faço parte dos dois lados do balcão na Escola de Cozinha Wilma Kövesi, nos tempos em que a saudosa Wilma estava no comando e, depois, com Betty, a filha, que a conduz com a mesma fineza e elegância. Ora como cozinheira, ensinando receitas, ora como aluna, aprendendo com profissionais da comida e bebida, me sinto parte do lugar e suas histórias. Faz uns dias fui assistir a aula do chef e mestre Carlos Siffert “Cozinha Indiana Vegetariana”, voraz e curiosa, na companhia da Julia, minha filha, na mesma vibe. A proposta era montar um Thali, pf da culinária indiana, com alguns dos pratos emblemáticos da culinária da Índia: dahl de grão de bico, curry com legumes, chapati, ghee, arroz basmati, rayta de pepinos e tomates, chutney de coco e ele, o garam masala.
Por mim a gente deveria esparramar masala em tudo – como os artistas atiram flores ao público, os convidados jogam arroz nos noivos e os religiosos respingam as bençãos molhadas sobre os recém-nascidos. Amo no arroz, no dahl de lentilhas, no curry, que ganha um boost. Existe o masala para o chá preto com leite, sem a pimenta. Também sou fã. Nas minhas invenções ocidentais, gosto de colocar o masala na geleia de morangos.
A comida indiana faz conexão com o Yoga de um jeito em que os sabores que experimento se misturam, ora no aprendizado, ora no paladar. Incrível!
Para quem quer se aventurar nos sabores, a receita do garam masala do Carlos está a seguir.
Garam Masala – Carlos Siffert na Escola de Cozinha Wilma Kovesi
Ingredientes
• 4 colheres (chá) de gengibre em pó
• 12 colheres (chá) de coentro em grãos
• 6 colheres (chá) de cominho em grãos
• 2 colheres (chá) de cravos da Índia
• 4 colheres (chá) de cardamomo (2 delas em sementes)
• 3 ½ colheres (chá) de grãos de pimenta do reino preta
• ½ xícara de pedaços pequenos de canela em pau
• 3 folhas de louro
Modo de Preparo
Na frigideira, toste cada especiaria em separado e rapidamente. Moa fino no liquidificador ou no pilão.
Escola Wilma Kövesi de Cozinha
WhatsAPP 11 999731775
instaG @escolawilmakovesi
Rua Cristiano Viana, 224
3. Amazônidas
As coisas da floresta são de uma riqueza sem-fim! Têm fim, na verdade, mas o uso sustentável permite que desfrutemos dos bens amazônicos com prazer sem esquecer o cuidado.
É sempre bom lembrar!
A pimenta assisi (a pronúncia é acizi) é um bem cultural da comunidade indígena Wai-Wai, que vive no extremo Norte do Pará. É utilizada pelas mulheres da tribo nos alimentos e nas preparações de fins curativos. Foi com minha filha Floriana, que é gestora na rede Amazônia em Casa Floresta em Pé, que cheguei à pimentinha. Ela caiu no caldo do chutney de manga e banana e deu o jazz que eu queria para a receita. Está se tornando um hit Carlota que espero contribua para ela, a floresta – é sempre bom lembrar –, que merece e precisa de nosso cuidado. Só queria dizer isso.
Eu não faço manha pra comer, não!
(Doce de Pimenta, Rita Lee)