FRESTA

Carol Albuquerque convida a entrar no Fresta.

Carol: autora de uma cozinha original e vibrante no Fresta (foto Letícia Remião)

Eu fui. Nem deu pra chegar na sobremesa, mas já sabia que teria que voltar.

O nome Fresta diz o que é preciso saber para ir até lá espiar — uma fresta sob o toldo cor de vinho na Simão Álvares, em Pinheiros. Depois, cumprido o vouyerismo gastronômico, entrar e ficar. E voltar. Muitas vezes.

Com um drinque, abri os trabalhos: uma noite calorosa de afeto com a Carol Albuquerque comandando o balcão e o que iríamos comer. Escolhi as bebidas, entre vinhos e drinques, e dei a largada com um daiquiri de rum Havana envelhecido 7 anos. De capotar.

O Daiquiri no Fresta: drink da largada (foto Letícia Remião)

O Fresta poderia estar em qualquer lugar do planeta, por sorte é aqui. A Carol já viveu em muitos países e cidades, e por escolha está aqui. Criando raízes e uma família, criou também o bar-restaurante com uma proposta acolhedora e original. Sua cozinha é vibrante, delicada e bem desenhada, sem excesso de processos e com muitas camadas de sabor. Como ela: simples e culta, viajada, leve e corajosa. Ela divide com o marido, um sorridente Willem, nascido belga, o negócio e as criações — a cozinha, a vida, o filhote, coisa mais linda.

Há a parceria com duas sócias, além do marido, que dão bossa musical à casa. Há a presença de Gabriela Monteleone nos vinhos, e Willem também na curadoria das cervejas de sua terra natal. Mas é Carol a autora da obra, da identidade do Fresta, da comida que vem do bar e da cozinha, da ideia de, por uma fresta, mostrar o infinito criativo de seu universo gastronômico.

A festa começa com caldinho de siri! Parece que estamos no melhor boteco baiano, em frente ao mar. E os ovinhos de codorna, hein? São um signature dish viajado: foi ao Japão e voltou pra Pinheiros — cremosos e com delicioso caldinho de cebolinha e amendoim. A salada grelhada com farofita crocante tem molho de castanha de caju que faz a composição ficar sublime. E aí vem a lula, feita na brasa com jamon e gergelim — um match perfeito. Falei em originalidade, não foi?

O caldinho de siri e eu já me achei na Bahia (foto Letícia Remião)

Os ovinhos com cebolinha e amendoim (foto Letícia Remião)

Também viajamos com o peixe do dia, lindamente grelhado sobre uma cama suculenta de kale e tomate confit. E provamos a pancetta em brodo oriental, o caldo trabalhado nas especiarias, com legumes crocantes.

A pancetta no caldinho oriental com legumes (foto Letícia Remião)

Toda essa energia, o clima despojado e os sabores sofisticados estão presentes na casa. Se por uma fresta é assim, pense como deve ser portas e braços abertos, o espírito bravo e gentil de Carol, essa mulher que é vencedora muito antes de começar a espiar os desafios da cozinha em sua imaginação e vencê-los, um a um, colecionando prêmios e vitórias. Como se fosse a própria vida — afinal, o que aparece por uma fresta, existe em quantidade por dentro.



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